quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Sem o livro

- Bom dia, Paulo!
- Bom dia!
- Tô com uma listinha de livros. Você pode me ajudar a procurar?
- Claro!
- O primeiro é "A arte...
- ... da guerra"!
- Nossa! Você é vidente, é? 

Risos

- O segundo é "Quem mexeu...
- ... no meu queijo?"
- Para vai! Que truque é esse?
- (Rindo) - É que são livros bem conhecidos.
- Quero ver você acertar o último: "Pai rico...
- ... pai pobre".
- Ah, não! Você tá de sacanagem?!
- (Risos) Vou pegar os livros.

Pego os livros nas prateleiras e os coloco no balcão.

- E então, qual você vai levar?
- Como assim?
- É que você só pode levar um por vez.
- Sério?
- Sério.
- Hum... Deixa eu pensar...

15 minutos depois

- Paulo, qual você sugere que eu leve?
- Olha, depende do teu objetivo. Um é de estratégia militar. O outro, sobre motivação. E o terceiro, orientação financeira.
- Entendi... Bom mesmo seria se pudesse ter tudo isso num livro só.
- E tem.

Vou até a prateleira, pego um livro e mostro para o leitor:





O leitor olha para o livro, arregala os olhos, olha para mim, faz o sinal da cruz e diz:

- Bruxo!

E vai embora sem o livro.

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terça-feira, 25 de setembro de 2018

Os cheiros da biblioteca

Biblioteca tem cheiro?

Tem!

Conforme o vento, um aroma de pipoca doce do carrinho da praça invade o ambiente e é tão forte que já está nos causando hiperglicemia coletiva.

Já na hora do almoço, é a vez de sofrermos com o perfume da comida do vizinho (ou vizinha).

O cheiro é tão bom que, certa vez, uma leitora perguntou se eu estava escondendo um porco atrás do balcão tamanho o ronco que o meu estômago deu.

Infelizmente, nem todos os cheiros são agradáveis...

Quem trabalha com público sabe que é normal se deparar no final de uma tarde de verão com um trabalhador que passou o dia na luta e que vai chegar até a gente um pouco suado.

Isso é entendível e perdoável.

Agora, o que eu não entendo é a pessoa chegar aqui logo cedo, assim que abrimos, cheirando à pizza vencida de aliche com cebola extra.

De todos esses casos sobre cheiros, há um que considero o mais bizarro.

Numa tarde, estávamos trabalhando normalmente quando, de repente, ouvimos um estrondo alto e prolongado.

Olhamos um para o outro e eu disse:

- Será que vai chover?

O céu era azul de outono. O tempo, extra seco. Não ia chover nem a pau!

O barulho se repetiu. Mais alto e mais forte.

Seriam anjos apocalípticos anunciando o fim do mundo com suas trombetas?

Não.

Era um leitor na sala ao lado cuja flatulência poderia encher um balão com um só golpe.

Neste dia, agradeci muito a Deus por estar com sinusite e não conseguir sentir cheiro de nada.

Já minhas colegas de trabalho estavam quase morrendo asfixiadas pelas bombas do leitor que certamente em breve será contratado pelo Talibã.

Falando dos meus colegas de trabalho, não posso reclamar. Todos apreciam um bom perfume.

Certa vez, uma ex-colega, hoje aposentada, saiu do toalete e um senhor que estava ao bebedouro olhou para ela com olhar sedutor e disse:

- Nossa! Que perfume gostoso...

Mas a colega muito irritada respondeu:

- Isso não é perfume. Isso é BOM AR!

E saiu toda magoada e chorando.

Se ela se chamasse Gabriela, já teria ganhado um apelido: "Gabriela Cravo e Canela", porque este era o aroma do odorizador de ambiente.

Mas se chamava Ana.










sábado, 22 de setembro de 2018

Desatenção

Vivemos a era da contradição.

Nossos olhos estão grudados no celular querendo acompanhar tudo, mas não prestamos atenção em quase nada. Seja na internet, seja ao redor.

Certa vez, uma senhora entrou na biblioteca perguntando:
- Aqui é uma sorveteria? 

Respondi:
- Sim. Qual sabor vai ser hoje? Chocolate ou Melancia?





Ela:
- Na verdade, eu só quero algo pra beber.

Eu:
- Recomendo "Amor líquido"...





Claro que não respondi isso. Mas tive vontade.

Outra coisa que acontece direto aqui é as pessoas perguntarem pelo setor da habitação, que fica no andar de cima.

- Oi. Aqui é o setor da habitação? 

- Não. O setor de habitação fica na parte de cima.

Tenho mania de falar isso e apontar pra cima. E as pessoas SEMPRE olham pro teto.

- Tem alguém atendendo lá agora?

- Sim. - respondo mentalmente. - "O homem no teto".




Lembro de um episódio em que eu estava sentado em frente à máquina de escrever (SIM! Nós ainda usamos máquina de escrever) quando, de repente, entrou uma menininha e disse:
- Olha, mãe! O museu!

Não sei se ela disse isso por causa da máquina ou se me achou com cara de múmia.




O fato é que mesmo quando estamos prestando muita atenção, coisas estranhas podem acontecer, como um furto.

- Moço, vocês têm o livro "A menina que roubava livros" ?

- Infelizmente não mais. Foi roubado.

- Sério? 

- Sério. E desconfio que foi uma menina...

Mais tarde, arrumando as prateleiras, descobri que o livro não havia sido roubado, mas apenas guardado no lugar errado.














quinta-feira, 20 de setembro de 2018

O nome do livro


- Bom dia, moço!
- Bom dia!
- Moço, eu queria saber se vocês têm um livro...
- Sim. 
- Ai, mas, acho que vocês não têm...
- Qual o título?
- Título... Só um minutinho... (procura algo dentro da bolsa) - Ai não trouxe o meu título de eleitor.
- Não, moça! O título é o nome do livro que você quer.
- Ahhhhhhh!!! Entendi. Mas, eu acho que vocês não vão ter aqui.
- Talvez a gente tenha. Mas pra saber, só você me falando o nome do livro.
- O nome do livro éééééé...
- É... ?
- Não lembro.
- (Suspiro) Certo! Você se lembra o nome do autor?
- Também não.
- Hum... Assim fica difícil. Mas, o livro fala sobre o quê?
- Ah, foi a minha amiga que indicou.
- Tá. E ela disse do que se tratava a história? 
- Fala sobreeeeee... Como eu posso dizer? É uma história meiooooo... 
- Meio...?
- Mais ou menos curta.
- Curta?
- É.
- Assim fica bem difícil...
- Não acho não. Histórias curtas são bem mais fáceis de ler porque terminam logo.
- (Suspiro) Esquece... Seria um livro de contos, talvez?
- Ou não.
- (Suspiro) Nossa, moça. Eu juro que eu quero te ajudar. Mas, sem o título, o autor ou o assunto fica praticamente impossível.
- AH! LEMBREI!!! (Ela grita quase me provocando um infarto)
- Lembrou?
- Sim. O livro tem uma capa meio acizentada!

Fiquei olhando fixamente para aquela moça sorridente a minha frente tentando decifrar se ela falava sério ou se ia tirar a máscara e revelar que era o Luciano Huck disfarçado e que a biblioteca estava no quadro "Lar Doce Lar" e finalmente seria reformada.

- Moça. Me desculpe. Mas descobrir um livro assim, pela cor da capa, num acervo de cerca de 16 mil livros, só por um milagre.
- É ESSE, MOÇO!
- Hein?
- O livro se chama "O Milagre" e o autor é o Nicholas Sparks.


Só fiquei numa dúvida: uma história de 326 páginas é considerada curta?

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quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Diários de Biblioteca

Quando eu era criança, chamavam-me muito a atenção as reações que a minha mãe tinha diante dos livros que ela lia. 

Ela sorria, chorava, fechava o semblante, gargalhava... E eu ficava encantado com o poder mágico da leitura.

Dessa minha observação nasceu meu gosto pelos livros.

Levado por minha mãe, passei a frequentar a biblioteca pública da minha cidade, onde logo fiz um cadastro e passei a emprestar livros.

"Um dia, quero trabalhar aqui!" - Eu pensava.

Até que em 2009, prestei um concurso público para trabalhar na biblioteca e passei em terceiro lugar. Mas só em 2013, fui chamado para assumir o cargo. 

Desde então, já se passaram 5 anos! Conheci muitas pessoas e vivi diversas histórias. E decidi compartilhar as mais divertidas aqui.

A partir de hoje, pelo menos uma história por semana será postada.

Sejam todos bem-vindos ao meu blog:

"Diários de Biblioteca"

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