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sábado, 1 de junho de 2019
O real motivo das coisas
Coisas que acontecem por um motivo, mas, a gente jura que é por outro.
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quinta-feira, 23 de maio de 2019
O uso das palavras
Por que fazemos tantas perguntas bestas?
Uma pequena (e semidesafinada) homenagem ao meu pai.
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terça-feira, 21 de maio de 2019
Feira de livros
Muito antes do crepúsculo, o feirante gritava a plenos pulmões:
- Olha a melancia! Moça bonita não paga, mas também não leva!
A garota perfeita passa apressada.
- Quem era? - pergunta Iracema.
- A menina que roubava livros. - responde Ulisses.
- Pelo jeito continua roubando. - diz o homem que calculava o valor das suas compras.
- Fala sério, irmão! Até que se prove o contrário, somos todos inocentes. - intervém o feirante.
- O corpo fala. - responde o homem. - Viu como ela corria?
- Vai dar a volta ao mundo em 80 dias - debocha Iracema.
- Pelo menos mantém o físico. – brinca Ulisses e todos riem.
Pouco adiante, o grande Gatbsy paquera uma ninfeta de nome Lolita, enquanto aguarda um artista de rua terminar o retrato de Dorian Gray.
O caçador de pipas passa distraído e tromba com os miseráveis que pedem esmolas.
Sentado numa cruz de madeira, o pagador de promessas come um pastel e toma caldo de cana pensando: “Essa feira é a divina comédia!”
- Quem mexeu no meu queijo? – pergunta O Mercador de Veneza.
- Homens e ratos tentaram - responde O estrangeiro. – Mas só os ratos conseguiram.
- É a revolução dos bichos.
Carrie, a estranha, chega gritando:
- Onde está Teresa?
Está à espera de um milagre. A cabana onde ela mora está pegando fogo.
- Obrigado, Dom Quixote! Alguém pode ajudar?
Teresa, cansada de cometer crime e castigo receber, agora estava em busca do tempo perdido, agindo como uma garota exemplar.
E o vento levou todos para ajudá-la.
A cabana ficava depois das cidades de papel e apesar do perigo iminente, as pessoas tiveram a sutil arte de ligar o foda-se.
O grupo seguiu o som e a fúria do fogo quente como o Inferno, e quase acabou desaparecido para sempre, o que deixaria a história sem fim.
Mas, um dia, depois de quase cem anos de solidão, Teresa finalmente foi encontrada. E o grupo todo pode retornar.
No caminho de volta, cruzaram com o apanhador no campo de centeio que mesmo velho e magro feito um saco de ossos continuava trabalhando.
Já a feira, bem como os antigos lares e famílias, não existia mais. Havia ficado em algum lugar do passado.
Naquele grupo de solitários centenários se abateu a angústia. Como teriam forças para recomeçar?
De repente, o céu escureceu passando por cinquenta tons de cinza, mas em vez de uma tempestade, surgiu das nuvens o mágico de Oz que num estalar de dedos transformou todos em jovens novamente.
O grupo se dividiu entre a cidade e as serras.
Teresa foi morar com Alice no país das maravilhas.
E todos viveram felizes para sempre.
Obs: Dizem que essa história é verídica e que são memórias póstumas de Brás Cubas.
No caminho de volta, cruzaram com o apanhador no campo de centeio que mesmo velho e magro feito um saco de ossos continuava trabalhando.
Já a feira, bem como os antigos lares e famílias, não existia mais. Havia ficado em algum lugar do passado.
Naquele grupo de solitários centenários se abateu a angústia. Como teriam forças para recomeçar?
De repente, o céu escureceu passando por cinquenta tons de cinza, mas em vez de uma tempestade, surgiu das nuvens o mágico de Oz que num estalar de dedos transformou todos em jovens novamente.
O grupo se dividiu entre a cidade e as serras.
Teresa foi morar com Alice no país das maravilhas.
E todos viveram felizes para sempre.
Fim
Obs: Dizem que essa história é verídica e que são memórias póstumas de Brás Cubas.
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sexta-feira, 17 de maio de 2019
Homem de 40
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quinta-feira, 16 de maio de 2019
O homem do futuro
Naquela tarde, sozinho na biblioteca, lia um livro quando "ele" chegou:
- Boa tarde!
- Boa...
Não consegui completar a frase. O homem do outro lado do balcão era, e ao mesmo tempo não era, eu!
- Tudo bem, Paulo?
Ri de nervoso.
- Como isso tá acontecendo?
Ele sorriu. E pude notar seus dentes mais brancos e alinhados que os meus.
- Calma, Paulo... Você é muito ansioso.
- Como posso ficar calmo? Eu tô de frente comigo mesmo. Só que numa versão melhorada. Como isso é possível?
- Olha isso.
Ele baixou a cabeça mostrando seu couro cabeludo. Estava cabeludo mesmo!
Cocei minha cabeça e senti onde meu cabelo já começa a falhar...
- Implante? - perguntei.
- Não. Tratamento.
Sua pele, diferente da minha, estava sem manchas ou oleosidade.
Vestia roupas limpas como as minhas, mas, muito mais novas.
Mas era a sua postura, confiança e energia positiva que mais me chamavam a atenção.
Mas era a sua postura, confiança e energia positiva que mais me chamavam a atenção.
- Por que você veio?
- Por que você continua aí?
Recuei. Aquela pergunta bateu forte no peito.
- Eu tô trabalhando aqui.
- E você se sente útil aqui?
Engoli seco.
- Sim. Eu... Eu ajudo os leitores a escolherem livros e...
- E...?
Fiquei irritado.
- Aonde você quer chegar com isso, cara?
- Você é feliz com seu trabalho? Com sua vida?
Fiquei olhando para ele. Ele sereno, aguardando a resposta.
- Quem você pensa que é pra me interrogar assim?
Ele sorriu.
- Eu poderia responder: "eu sou você amanhã", mas... Não tenho certeza disso...
Sentei um instante. Estava zonzo. Incrédulo com aquilo tudo. Tomei fôlego e encarei a situação:
- Olha... Não sei se tô ficando louco. O que sei é que você é uma versão melhorada de mim mesmo. E isso me leva a pensar que voltei do futuro pra me dizer alguma coisa...
O "outro eu" inclinou a cabeça como quem diz "pode ser". Continuei:
- Mas, agora você disse que não tem certeza de que sou eu amanhã... Tô confuso!
Tranquilo, o "outro eu" pediu que eu me levantasse e ficasse frente a frente com ele. Tocando meu ombro:
- Paulo, o que define uma mudança na vida?
- Várias coisas. - respondi. - Muitas delas nem dependem da gente. Uma surpresa, um acidente, por exemplo.
Ele assentiu com a cabeça.
- Além dessas coisas das quais não temos controle, existe algo mais que nos permita mudar de caminho?
Pensei um instante.
- Sim. Uma escolha.
- Exatamente! E feita a escolha, qual o passo seguinte?
- Ação?
- Ação!
Olhei para baixo. Depois ao meu redor. Lembrei de quando era criança e sonhava trabalhar na biblioteca. Já adulto, prestei concurso, passei em terceiro lugar. Depois de quatro anos fui contratado. E já havia passado seis anos desde então.
- O que você faz da sua vida? - perguntei.
Seus olhos brilharam.
- Eu vivo! Uni tudo o que eu gostava e fazia bem: teatro, leitura e escrita.
- Como foi possível?
- Escolha, Paulo.
Quantas escolhas eu já tive que fazer na vida... Nem sempre acertei. Mas, todas elas mudaram muito o rumo das coisas.
- O que você escolheu?
- O que você quer escolher nesse momento? Responde a primeira coisa que aparecer na sua cabeça.
- Estudar!
Meu outro eu sorriu.
- Estou fazendo Mestrado em Artes Cênicas em outra cidade. Nessa cidade que você está pensando.
- Por isso tanta leitura, tanta escrita e teatro.
- Sim. Vou transformar minha dissertação de Mestrado em livro.
Fiquei tão feliz pelo meu "outro eu" que o abracei.
Quando abri os olhos, estava sentado sozinho com um livro nas mãos.
Foi então que eu entendi. A felicidade que senti pelo outro, na verdade era por mim mesmo. Porque ele era eu a partir da minha escolha. E eu havia acabado de escolher. E comecei a agir naquela mesma tarde...
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quarta-feira, 15 de maio de 2019
Leitura da mão
Shirlei havia acabado de se cadastrar na biblioteca e quando lhe entreguei o regulamento ela soltou essa:
- Reparei rapidamente em sua mão e achei bastante interessante...
Percebendo que fiquei meio sem jeito, ela explicou:
- Não estou te assediando... Eu trabalho com as mãos.
- Ah! A senhora é manicure?
- Não.
- Massagista?
Ela sorriu.
- Eu sou quiromante.
- Que legal! Quanto a senhora cobra para ler a mão?
- Nada. Faço porque é meu dom.
Como não havia mais ninguém além de nós, tratei logo de mostrar as duas mãos e ela imediatamente começou a analisar:
- Vejo que antes de trabalhar aqui, houve um período de muita luz na tua vida.
"É porque trabalhei 10 anos na Companhia de Energia Elétrica" – respondi mentalmente.
Ela prosseguiu:
- Há pouco tempo, você descobriu que uma presença feminina na sua vida não era o que você esperava.
"Bom... Ganhei uma gata e chamei de Lurdes. Depois, descobri que não era gata e sim um gato macho. Faz sentido."
- De um ano para cá, vejo que algumas peças não estão se encaixando na sua vida.
"Acertou na mosca! As última 3 peças de teatro que tentei fazer não vingaram. Essa mulher acerta todas!" - continuei deboxando em pensamento. Então, peguntei:
- E o meu futuro?
Ela espremeu os olhos como se estivesse com dificuldades para enxergar.
- Desculpe-me... Vejo o seu rosto, mas... Está tudo esbranquiçado.
"De fato, minha barba e meus cabelos estão precisando de um tonalizante para disfarçar os fios brancos."
Recolhi minhas mãos e agradeci por educação.
Sempre acreditei em videntes, mas, aquela mulher não era quiromante nem aqui nem na China.
Antes de ir embora, porém, ela me surpreendeu:
- Tchau, Paulo Sergio, e obrigado!
Como ela sabia meu nome se eu não havia falado?
Corri até a rua e chamei:
- Shirlei!
Ela se virou.
- Como você sabe o meu nome?
- Eu li no teu crachá.
A honestidade da sua resposta me fez voltar ao trabalho pensando:
"Não se fazem mais charlatões como antigamente..."
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terça-feira, 14 de maio de 2019
Onde está Teresa?
Um homem careca e carrancudo, muito parecido com o vilão dos Vingadores, encostou no balcão da biblioteca e questionou minha colega:
- A Teresa tá aí?
- Mas, quem é Teresa?
- Teresa é minha filha.
- Desculpe, não conheço.
O homem agitado andava de um lado para o outro bufando feito um touro.
- O senhor pode entrar nas salas de leitura e ver se ela está lá.
O homem foi, voltou e novamente perguntou:
- Mas, a Teresa veio aqui hoje?
- Dá uma olhada no livro de presença. Vê se ela assinou.
Mas, em vez de conferir o livro, o homem sacou o celular do bolso e ligou, provavelmente, para a mãe da menina:
- A moça da biblioteca disse que a Teresa não veio aqui hoje.
Minha colega olhou para mim "p... da vida". Fiz sinal para se acalmasse, deixando o vilão comigo. O homem desligou o celular e novamente se dirigiu a ela:
- Já que eu tô aqui, vou pegar um livro. A senhora tem alguma sugestão?
- Tenho! - eu disse tomando a frente.
Peguei um livro que havia acabado de ser devolvido e mostrei para o carrancudo.
- Leva este aqui.
O "Thanos cover" fechou ainda mais a cara, mas, graças a Deus, não estalou os dedos.
Não sei porque ele foi embora chateado.
Segue abaixo o livro que indiquei:
Irônico? Eu?
Não!
Eu só quis ajudar...
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