Horas depois de encerrar o expediente na biblioteca, fui a uma choperia.
Enquanto aguardava meu chope, reparei no casal da mesa ao lado. Tanto a moça quanto o rapaz eram muito bonitos e estilosos.
A moça, ao lado do rapaz, esticou o braço fazendo uma selfie. Olhou o resultado e torceu a cara. Tirou outra. E outra. E mais outra... Pelo jeito não estava saindo perfeita.
- Deixa que eu tiro. – disse o rapaz.
Ele bateu uma foto. Não deu certo.
- Deixa eu trocar de lado com você.
Ele se sentou a direita da moça. Sendo destro, seria mais fácil acertar a foto nessa posição.
Ele esticou o braço comprido estilo pau de selfie e clicou.
“Agora vai” – pensei.
- Não ficou boa. – ele disse.
Eu já estava quase me oferecendo para fazer a foto quando o garçom chegou.
- Pode fazer uma foto pra gente? – pediu a moça.
O garçom tomou distância e tirou uma, duas, três para garantir. Devolveu o celular pra garota e seguiu.
Conferindo o resultado, ambos balançaram a cabeça negativamente.
Outro garçom apareceu trazendo o pedido deles.
Imediatamente, o rapaz ajeitou as porções e bebidas, pegou o celular e deu duas voltas na mesa procurando o melhor ângulo para fotografar.
Demorou tanto, que a batata frita murchou, o queijo derreteu e a cerveja esquentou.
Quando sentou, foi a vez da menina tentar outra selfie. Ela virou a cabeça de lado e mostrou a língua. Ele fez cara de mau e um “V” com os dedos.
Acho que o efeito era “Boomerang”.
Dessa vez acertaram de primeira. Ela colocou o celular na mesa, pegou o copo de cerveja e o namorado propôs um brinde com foto, claro.
Ele usou o disparador automático e tirou muitas fotos em sequência.
Demoraram um bocado para verem todas.
- Gostei dessa. – ela disse.
- Essa não. Tá tremida. Prefiro essa daqui.
- Credo! Nessa eu tô com barriguinha.
“Barriguinha onde, meu Deus?”
Depois de um tempo, chegaram a um consenso e postaram duas fotos.
O rapaz colocou o celular na mesa, pegou uma batata frita e antes de mordê-la o celular vibrou. Conferiu:
- Já temos 3 curtidas!
Ela também pegou seu celular.
E ficaram assim pulando do Facebook para o Instagram para verem as curtidas e lerem os comentários. Mas, claro que havia pausas entre uma rede e outra. A pausa servia para eles responderem pessoas no Whatsapp.
Eu, que havia chegado depois, já estava no meu quarto chope e minha porção já havia acabado fazia tempo.
Olhei aquele casal tão bonito e fiquei pensando no que as pessoas estavam dizendo sobre eles: “Lindos!”, “Casal Top!”, “Melhor casal”.
E imaginando quanta gente invejava aquela “felicidade”, aquele “amor”, aquele “casal perfeito”.
Então, eu tive certeza que a solidão não é uma questão de falta de pessoas.
Aquele casal não conversava, não se beijava, não tinha conexão. O que os unia era apenas a necessidade de mostrar aos outros uma imagem (falsa) de felicidade.
Quanto a mim, estava sozinho por opção. Mas, muito bem acompanhado pela minha própria presença, meus pensamentos, minha paz interior.
E meu chopinho, claro!